quarta-feira, 24 de junho de 2015

Um pouco de casa

  Chá quentinho no fim do dia corrido, cama cheirosinha, colo de pai e mãe, afeto de irmã, almoços em família, silenciosas tardes de domingo. Um pouco do que, há quase três meses atrás, deixei para trás. Um pouco do que faz falta a cada dia, a cada santa manhã. Um pouco do que me deixa em prantos em algumas noites e segurando as lágrimas em outras. Um pouco do que faz a saudade transbordar. Um pouco do que faz doer por pensar que se foi para sempre, que mesmo que aconteça algumas vezes, não será como antes. Um pouco do que faz pensar se a troca valeu a pena e se a vida tende ou não a ser melhor agora, e em vários dias, eu duvido que seja. Um pouco de casa. Ou melhor, de lar. 
  Mensurar em palavras a loucura de abandonar todo o aconchego da família para se aventurar num lugar totalmente estranho seria impossível. Mas registro aqui a vontade ainda mais louca que por vezes bate à porta, a vontade de largar tudo, pegar o primeiro ônibus e correr pro melhor abraço do mundo, o dos meus pais. No entanto, apesar dessa instabilidade sentimental, que uns dias me deixa bem e em outros me leva à beira da insanidade, a esperança de um futuro melhor permanece. Uma esperança que, somada à vontade de mudar o mundo de algum jeito, ao apoio das pessoas tão amadas e ao medo de perder uma oportunidade dessas, me faz continuar. Continuar aos poucos, seguir em frente no meu tempo, acompanhada da saudade, de um sentimento ambíguo. Mas continuar. Mesmo que tudo dê errado. Mesmo que não haja mais opções. Mesmo que o medo tome conta. Continuar.